A tradicional corrida de Birgu com Jesus ressuscitado

No domingo de Páscoa acontecem mais procissões em Malta. Logo após a missa da manhã, por volta das 10h, os católicos se reúnem para percorrer as ruas das cidades com a estátua da Ressurreição de Cristo.
Minha professora havia me dito para acompanhar a procissão na cidade Birgu, pois esta é uma das poucas cidades que mantém a tradicional corrida com a estátua de Jesus ressuscitado.
Peguei um ônibus de Swieqi para a capital Valetta e de lá um outro ônibus rumo a Birgu. Cheguei bem no final da missa e peguei a estátua sendo levada para as ruas. A cidade estava toda decorada com muitas bandeiras do país e diversas faixas vermelhas, estas últimas para simbolizar o sangue de Jesus. Além das decorações das ruas, muitos habitantes também colocam bandeiras nas janelas de suas casas. Por todos os lados muitas famílias, barracas de doces e sanduíches. Os malteses amam doughnuts e em toda festa você encontra barracas vendendo essas delícias. O que acho mais interessante das barracas de comidas é que eles deixam uma amostra de cada um dos itens do cardápio exposto.
Depois de beliscar algumas coisas, fui acompanhar a procissão. Como sempre, havia uma banda marcial tocando e puxando a multidão de fiéis e anunciado a passagem da imagem de Jesus Ressuscitado. A estátua que foi criada por Salvu Psaila em 1833 é enorme e pesadíssima. Atualmente, a estátua utilizada é uma réplica da original. Sinceramente, não sei como aqueles homens aguentam carregá-las. No caso de Birgu, além de erguer a estátua, estes homens correm pela cidade com ela apoiada em seus ombros. Já pensou? Eles correm alguns metros, param, descansam e voltam a correr até dar uma volta por toda Birgu.
Mas engana-se quem pensa que esta tradição tem a ver com religião. Tudo começou quando o primeiro governador britânico de Malta, Thomas Maitland, criou uma lei que determinava um tempo limite para as procissões e caso esse tempo fosse excedido os fiéis pagavam uma multa. Para evitar isso, eles passaram a correr com a estátua e assim conseguir percorrer o máximo de ruas possíveis dentro do tempo permitido.
Depois que a lei deixou de existir, eles mantiveram as corridas que se transformaram numa tradição que diverte todos os visitantes durante a procissão de Birgu no domingo de Páscoa.
Depois da procissão, todos se reúnem pelos bares próximos à praça central pra beber e comemorar. Os malteses também se reúnem para um almoço em família e troca de ovos de chocolates e o tradicional figolla, bolo típico dessa época. Acompanhar tudo isso de perto foi uma experiência muito bacana. É emocionante e bonito de ver a devoção, fé e amor que elea tem por Jesus.

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Desfiles em Malta trazem estátuas que relembram o sofrimento de Jesus rumo ao calvário

A Sexta-feira da Paixão (Good Friday) em Malta é marcada por uma porção de procissões. As ruas de diversas cidades são tomadas por um monte de estátuas como estas das fotos que relembram diversos momentos que antecederam o sacrifício de Jesus. Da traição de Judas, passando pela crucificação até o enterro de Jesus. Tudo isso com trilha sonora tocada ao vivo por bandas marciais. Na procissão que passou perto da minha casa, não tinha banda, mas sim um coro cantando Ave Maria. Pena que na hora eu estava sem minha câmera e sem meu celular para registrar aquele momento. Você pode conferir todas as estátuas e o significado de cada uma delas no site Good Friday Malta.

Neste outro link você pode assistir um pouco dos bastidores e da procissão que rolou em Valetta, nessa última sexta.

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Where is your candle? O susto que levei durante uma cerimônia maltesa

Era dia 22 de abril de 2011, Sábado de Aleluia e eu estava caminhando pela orla de St. Julians voltando pra casa depois de um dia de compras em Sliema, quando de repente vi um burburinho na porta de uma igreja. Claro que resolvi parar pra ver o que era, curiosa do jeito que sou, né?! rsrsrs Num primeiro momento pensei que fosse um casamento, mas estava completamente enganada. Pura falta de conhecimento sobre o catolicismo. hehehehe

Quando consegui me enfiar no meio da multidão que estava parada na porta da Igreja (juro que parecia que estavam esperando uma noiva sair), consegui ver que no meio deles havia um galão (aparentemente querosene) e um balde com um tocos de madeira. De repente uns padres saíram da igreja e colocaram fogo no balde. Alguns coroinhas apareceram com velas enormes, acenderam-nas e retornaram para dentro da igreja, seguidos pela multidão que ali estava. E você tem alguma dúvida que eu fui atrás?

Igreja Our Lady of Mt. Carmel, St. Julians - Balluta Bay.

Entramos na igreja e estava um breu. E aquela escuridão me deixou ainda mais intrigada. Obviamente, que ficar quietinha no fundo da igreja só observando, não era o bastante para mim. Tive que ir quase até o altar da igreja, no escuro para espiar. Durante este pequeno percurso pequenas velas começaram a ser acendidas. De repente acenderam a luz da igreja e do nada apareceu uma freira bem na minha frente. E ela me perguntou gritando num tom bem bravo: “Where is your candle?” (Onde está a sua vela?) hahahahaha Todo mundo tinha uma vela, menos eu. =[ Imagina a minha cara de espanto e desespero? O susto foi tão grande e explicar porque eu estava ali sem a bendita vela me pareceu quase impossível que apenas gaguejei umas palavras que nem eu mesma entendi. E foi então que ela me mandou buscar uma vela lá na entrada da igreja e voltar ali para acendê-la. hahahahahahaha E o pior de tudo, em vez de eu me dar por satisfeita, pegar o caminho da roça e dar no pé, não, eu obedeci a freira. Busquei a vela, acendi e fiquei lá sentada ouvindo uma linda e emocionante cerimônia em maltês. Mas, afinal o que era aquela cerimônia?

Pesquisando no Santo Google descobri que tudo isso não passava da uma Cerimônia do Fogo Sacrado, realizada pelas Igrejas Católicas Ortodoxas. Os cristãos ortodoxos acreditam que um fogo sagrado aparece, de forma espontânea, na tumba de Jesus um dia antes da Páscoa. O fogo é interpretado como uma mensagem de que Jesus não foi esquecido por seus seguidores.

Como não aguentei ficar até o final da celebração, fiquei numa saia justa do que fazer com a tal da vela que tive que pegar. Deveria deixar lá queimando? Deveria levar para casa? Enfim, decidi sair à francesa e levar a vela comigo. hahahaha Quando cheguei em casa minha flatmate me encheu de perguntas sobre a tal vela que estava em minhas mãos e acabei contando toda a história pra ela que se divertiu horrores e me fazia repetir para Deus e todo mundo. Pode imaginar? Cada vez que contava, mais rica de detalhes era a história. Epa! Mas peraí isso não tem nada a ver com aquela história de quem conta um conto aumenta um ponto, não, viu?! Era apenas o meu vocabulário de inglês que foi sendo aprefeiçoado ao longo dos meses. Hehehe Alguém até gravou a minha hilária interpretação, mas não me enviaram. (só espero que nunca joguem isso no youtube hahahaha)

E foi assim que “where is your candle?” se tornou uma gíria repleta de significados para mim, pra minha flatmate e alguns amigos mais próximos. E esses significados continuaram como nosso segredo de viagem. hahahahaha Se um dia eu tiver a oportunidade, me lembre, que interpreto essa história pessoalmente pra você. 😉

Tradições da Páscoa: A Última Ceia

Como já contei pra vocês antes, Malta é uma país muito católico. Portanto você já imagina o quanto a Semana Santa é um feriado importante para eles, né?!

E as comemorações começam oficialmente hoje, Quinta-feira Santa (Maundy Thursday ou em maltês Hamis ix-Xirka). Como todos sabem, o dia que antecedeu a Sexta-feira da Paixão foi marcado pela Última Ceia de Jesus (Last Supper). E por isso, os malteses tem como tradição recriar esta cena com estátuas de tamanho real de Jesus e Os Apóstolos. Essas exposições ficam abertas para visitação gratuita em diversas igrejas de Malta e Gozo e são feitas por voluntários, por amor e devoção.

Durante o sábado de aleluia, eu estava caminhando pelo calçadão de San Giljan e parei para conhecer uma dessas exibições, mas era uma bem pequena. A placa que havia na entrada (foto abaixo), escrita em maltês, anunciava a venda de Qaghaq ta’ l-Appostli e Figolli, duas comidas típicas da Páscoa maltesa.

Outras Tradições da Quinta Santa são as procissões feitas com tochas que saem de praça Siggiewi, passam pela Rua Girgenti e terminam na Laferla. Há também uma missa especial, na qual um sacerdote lava os pés de 12 homens, para simbolizar o momento que Jesus lavou os pés dos Apóstolos. Depois dessa missa, os fiéis fazem o “Seba’ Visti”, um tour por 7 igrejas ou capelas diferentes para fazer uma oração em cada uma delas. Essa procissão pode ser feita até Sexta ao meio-dia e trata-se de uma tradição dos tempos da Roma Antiga.

Pra quem está em Malta uma das exposições que está rolando desde o dia 01/04 e vai até sexta é esta do Nadur Museum com 15 estátuas do James Azzopardi. O museu fica na San Ġorġ Preca Street, Nadur.

Imagem de 1520, por Giampietrino

Mosta Dome, a igreja que tem um polêmico milagre em sua história

Aproveitando que estamos na Semana Santa, que tal uma dica de ponto turístico religioso? Pra quem é muito católito, eu super recomendo Malta para turismo religioso. As opções de passeios e festas são intermináveis. Só pra você ter uma ideia, Malta tem mais de 350 igrejas. Pensa só, quase uma igreja pra cada dia do ano!

E uma dessas igrejas que, sem dúvida alguma, você tem que conhecer é a St. Mary, a Igreja Paroquial de Mosta, conhecida também por Mosta Dome e Mosta Rotunda, por conta de sua cúpula e forma circular. Esse passeio é bacana fazer independente de ser ou não religioso, viu?! Afinal, essa igreja possui um curioso milagre em sua história.

Mosta Dome foi criada pelo arquiteto maltês Giorgio Grognet de Vassè que se inspirou no Pantheon de Roma, o que lhe rendeu o título de primeira igreja desse estilo em Malta. A igreja foi construída para substituir uma paróquia de 1614 e sua construção demorou cerca de 30 anos, sendo concluída em 1860. A igreja é linda e enorme. Tem uma cúpula maravilhosa e que é considera a terceira maior do mundo, com 61 metros de altura e 39,6 de diâmetro. É tão grande que é possível enxergá-la de outras cidades de Malta.

Achei interessante fotografar os folhetos que tem na igreja, pois estão em maltês.

Estive em Mosta duas vezes e em uma delas estava rolando um encontro muito legal de Ferraris.

O milagre da bomba

Situada na região central de Malta, a cidade de Mosta tem seu nome derivado de uma palavra árabe “musta” que significa centro. Mosta tem como vizinha a cidade de Attard, que hoje abriga o principal estádio de futebol do país e o Parque Nacional de Ta’ Qali. Porém na época da Segunda Guerra Mundial, este parque era uma base aérea militar e sofreu alguns ataques.

Em vermelho é Mosta e em azul Attard, onde fica Ta' Qali.

Durante um destes ataques, na tarde de 9 de junho de 1942, diversas bombas alemãs foram jogadas ao redor da Mosta Dome e uma delas atingiu a cúpula, caiu e rolou pelo chão da igreja. A igreja estava lotada, havia cerca de 300 pessoas lá, aguardando pela missa, mas acredite se quiser ninguém ficou ferido e a igreja teve danos leves. E tudo isso só foi possível porque mlagrosamente a bomba não explodiu. hehehehe

Existe até uma lenda, que diz que quando abriram a bomba para desarmá-la, estava cheia de areia e uma nota dizendo: “Saudadões dos funcionários da Skoda Works, Pilsen”. Até faria sentido que se tratasse de uma sabotagem da produção, pois naquela época a Tchecoslováquia estava sob o domínio da Alemanha nazista. Porém, contudo, no entanto, todavia… segundo a escritora britânica S A M Hudson em seu livro “UXB Malta: Royal Engineers Bomb Disposal 1940-44“, a bomba era de verdade e não se trata de um milagre como muitos fiéis acreditam até hoje. Ela foi apenas mais uma das mais de 7.000 bombas que foram jogadas sobre Malta, não explodiram e foram tratadas pelo Setor de Neutralização de Bombas de Malta.

Na sacristia da Mosta Dome, tem uma réplica da bomba. Lá, você também poderá comprar alguns souvenires. Uma dessas recordações que está à venda é a cópia a foto dos militares com a bomba. Eu comprei para o meu pai, pois ele adora essas coisas. Mas acabo de descobrir que talvez essa foto seja uma farsa. =(

Segundo Hudson, a bomba que esta na foto tem cerca de 1.000 kg e a que caiu na igreja tinha 500kg. Em seu blog, ela postou esta foto como sendo de 1941, ou seja, um ano antes do ocorrido em Mosta. Como fiquei furiosa curiosa sobre o assunto, decidi pesquisar mais e encontrei um outro livro que fala sobre o Milagre da Bomba Malta at War: Volume 5 No 11. Neste livro os autores John A. Mizzi e Mark Anthony Vella dizem que nesta foto tem um agente que havia sido morto num bombardeio na Sicília alguns meses antes. E agora? Será que essa foto é ou não é da bomba que caiu em Mosta? Fica a dúvida.

A polêmica foto, será ou não de Mosta?

O buraco que a bomba fez na linda cúpula da igreja.

A restauração da cúpula não ficou perfeita. Foto: Klaus Ipsen

A réplica da bomba .

Horário de Funcionamento: todos os dias das 05h ao meio-dia e das 15h às 20h

Endereço: Triq Il-Kbira, Mosta

(obs.: Triq significa Rua em maltês)

Como chegar: Veja as rotas e horários no site da Arriva.