Comidinhas típicas da Páscoa em Malta

Sei que a Páscoa já passou faz um tempinho, mas fiquei devendo um post sobre as comidas típicas dessa época em Malta. Assim como por aqui temos a nossa Colomba Pascal (trazida na bagagem dos italianos) e a troca de ovos de chocolate, Malta também tem suas tradições gastronômicas envolvendo a data.

Uma delas é a sopa Kusksu ou Fava Bean Soup feita com fava. Um dos motivos dessa sopa ter se transformado em tradição é que março e abril é época de colheita da fava. Outro motivo é o fato dessa sopa não ser feita com carne. E muitos malteses não comem carne durante alguns dias da Quaresma, principalmente na Sexta-feira da Paixão. O nome Kusku se deve a massa que é utilizada na sopa. Uma massa redonda pequena, um pouco menor que o couscous utilizado na culinária do norte da África. Eu não cheguei a provar essa sopa quando estava lá, mas se você quiser se aventurar aqui tem a receita. Não achei a cara muito apetitosa, mas de repente foram as fotos que encontrei. hehehehehehe

Essa foto eu peguei no site da Golden Harvest uma empresa que produz deliciosos pães lá. Tudo que eu comprava deles era uma delícia.

Outra tradição desta época é o Qaghaq ta’ l-Appostli, um pão suave em formato de rosca, decorado com amêndoas torradas e gergelim. Em algumas cidades como Rabat é possível encontrar esse pão durante toda a quaresma, mas na maioria das cidades você vai encontrá-lo apenas na quinta e sexta-feira santa. Eles são vendidos em padarias, supermercados e na frente de algumas igrejas. Dizem que é uma delícia para comer apenas com manteiga ou com algum queijo. Uma pena que não provei. Não duvido que seja gostoso mesmo, pois achei a maioria dos pães em Malta muito saborosos e deliciosos.

Foto: Golden Harvest

No domingo de Páscoa em Valletta, me chamou atenção duas crianças sentadas próximas a uma igreja vendendo algumas dessas comidas típicas. Eu comprei apenas um pão doce pequeno, chamado Hot Cross Buns que pelo o que li, a tradição é comê-los na Sexta. Ou seja, pode ser por isso que não gostei. Devo ter experimentado a sobra da sexta e já não estava mais fresquinho, né?! =( Mais um motivo para eu voltar à Malta e provar um como este da foto ao lado ou estes desta receita. Afinal, parecem tão apetitosos. hehehehe

Olha aí o Hot Cross Buns que eu experimentei.

Foto: Golden Harvest

Um outro doce típico dessa época é o delicioso Kwarezimal, esse eu experimentei e adorei. Ele é feito com amêndoas. Aliás muitos doces típicos de lá levam amêndoas como ingrediente. E eu amoooooooooo. Quer a receita? Aqui vai. Mas se fizer, não esqueça de me convidar para provar, hein?! *.*

E por último e não menos importante. Na verdade, esse é o mais tradicional e famoso doce típico dessa época, o Figolla. Um bolo cortado em diferentes formatos como borboletas, peixes, corações, dentre outros e recheado com uma massa feita de amêndoas. Depois de assados esse bolo, recebe uma camada de marzipan, decorações com glacê e a metade de um ovo de páscoa. Eu também não dei sorte com esse, mas também fui super mirim, experimentei numa doceria siciliana e não numa maltesa. =/ Fica na lista para a próxima visita também, certo?!

O mais interessante é que por trás do figolla existe uma tradição bacana (que acabei de descobrir que eu não segui. Damn! hehehehehe). A tradição diz que os figollas não devem ser comidos até o domingo de Páscoa, quando é hora de comemorar a ressurreição de Cristo. Outra tradição que é mantida há muitos anos pelos malteses, é levar o figolla para receber a benção durante a procissão do domingo. Acho muito bacana esse jeito maltês de manter antigas tradições sempre vivas, passando de geração em geração.

Ah! E se você quiser arriscar, aqui tem a receita.

Foto: Golden Harvest

Almoço de Páscoa numa delegacia?

Depois de acompanhar a procissão da Páscoa em Birgu, decidi almoçar em Valetta, poris teria que parar por lá para pegar o ônibus pra casa. Como estava com a revista Time Out em mãos, decidi olhar as indicações de restaurante e lá sugeria uma boa opção em Marsamxett, a orla de Valletta, onde fica a estação de ferry boat para Sliema.  Infelizmente, o restaurante estava lotado e o buffet especial de Páscoa não me agradou muito. Já que estava ali e morrendo de fome, decidi olhar o cardápio do restaurante Al Mare que ficava ali do lado e parecia tão agradável quanto o outro. Com um cardápio bem variado, que tinha peixe, carne, massa, pizza e até hambúrguer, ele me fisgou. E para melhorar havia mesas disponíveis do lado de fora do restaurante de frente para o mar, do jeito que queria. =)

Logo que cheguei, me chamou a atenção um senhor em pé na área externa do restaurante preparando um peixe para servir em uma das mesas. Ah! Uma das especialidades maltesas é o peixe fresco do dia (sai do barco do pescador direto pras cozinhas dos restaurantes). Mas como naquele dia, eu queria comer camarão, optei pelo Penne Farouk, feito com molho branco, tomates, espinafre, camarões e curry, que me pareceu bem diferente do que estou acostumada a ver pelos cardápios brasileiros. Não me arrependi, estava delicioso. As massas são outra especialidade da culinária da ilha, influência gastronômica herdada da vizinha Itália. Para acompanhar uma taça de vinho local. Não desembolsei mais que 12 euros e comi bem. Geralmente, os pratos são bem servidos. Bom, barato e com uma vista linda e tranquila para Sliema e o Fort Manoel.

Police Station ou restaurante? Foto: M@R©K

O chef prepara o típico peixe fresco maltês na área externa do restaurante.

Pra qual mesa será que foram aqueles peixinhos que estavam sendo preparados? hehehehe (Ah! Malta é o país dos gatos, não estranhe se vir uma porção deles pelas ruas, ok?!)

Penne Farouk e vinho maltês. Delicious! NHAM!

Além do vai e vem dos barcos, da minha mesa eu também podia ver o Fort Manoel…

… eu e o pescador que estava por ali tentando garantir o jantar. hehehehe

Também podia apreciar a orla Sliema e seus prédios…

… a igreja Carmelite, a catedral anglicana St Paul’s…

… e o Marsamxett Regatta Club.

Mas se o Al Mare é um restaurante por que está escrito em sua fachada “Police Station”?

O casarão vitoriano no qual está localizado foi originalmente construído para abrigar uma casa de guarda em 1725, época em que a ilha Manoel era utilizada como uma fortaleza para proteger a entrada do porto. Quando os ingleses ocuparam Malta a atividade comercial aumentou e com isso o trabalho das balsas entre Valletta e Sliema também. Em 1884, foi construído no local uma estação Marina da Polícia. Com dois barcos (fregatini), os policiais patrulhavam M’Xett e Sliema em busca de mercadorias contrabandeadas e para ter certeza que  os barqueiros, que transportavam os passageiros dos navios Mercantes e da Marinha para costa, estavam fazendo seu trabalho corretamente. A Marina da Polícia foi desativada em 1970 e se transformou no restaurante em 1987, após uma reforma que manteve a estrutura inicial.

Al Mare Onde? Marsamxett Wharf, Valletta. Telefone para reservas: (+356) 2123 2918/ (+356) 99472317

A tradicional corrida de Birgu com Jesus ressuscitado

No domingo de Páscoa acontecem mais procissões em Malta. Logo após a missa da manhã, por volta das 10h, os católicos se reúnem para percorrer as ruas das cidades com a estátua da Ressurreição de Cristo.
Minha professora havia me dito para acompanhar a procissão na cidade Birgu, pois esta é uma das poucas cidades que mantém a tradicional corrida com a estátua de Jesus ressuscitado.
Peguei um ônibus de Swieqi para a capital Valetta e de lá um outro ônibus rumo a Birgu. Cheguei bem no final da missa e peguei a estátua sendo levada para as ruas. A cidade estava toda decorada com muitas bandeiras do país e diversas faixas vermelhas, estas últimas para simbolizar o sangue de Jesus. Além das decorações das ruas, muitos habitantes também colocam bandeiras nas janelas de suas casas. Por todos os lados muitas famílias, barracas de doces e sanduíches. Os malteses amam doughnuts e em toda festa você encontra barracas vendendo essas delícias. O que acho mais interessante das barracas de comidas é que eles deixam uma amostra de cada um dos itens do cardápio exposto.
Depois de beliscar algumas coisas, fui acompanhar a procissão. Como sempre, havia uma banda marcial tocando e puxando a multidão de fiéis e anunciado a passagem da imagem de Jesus Ressuscitado. A estátua que foi criada por Salvu Psaila em 1833 é enorme e pesadíssima. Atualmente, a estátua utilizada é uma réplica da original. Sinceramente, não sei como aqueles homens aguentam carregá-las. No caso de Birgu, além de erguer a estátua, estes homens correm pela cidade com ela apoiada em seus ombros. Já pensou? Eles correm alguns metros, param, descansam e voltam a correr até dar uma volta por toda Birgu.
Mas engana-se quem pensa que esta tradição tem a ver com religião. Tudo começou quando o primeiro governador britânico de Malta, Thomas Maitland, criou uma lei que determinava um tempo limite para as procissões e caso esse tempo fosse excedido os fiéis pagavam uma multa. Para evitar isso, eles passaram a correr com a estátua e assim conseguir percorrer o máximo de ruas possíveis dentro do tempo permitido.
Depois que a lei deixou de existir, eles mantiveram as corridas que se transformaram numa tradição que diverte todos os visitantes durante a procissão de Birgu no domingo de Páscoa.
Depois da procissão, todos se reúnem pelos bares próximos à praça central pra beber e comemorar. Os malteses também se reúnem para um almoço em família e troca de ovos de chocolates e o tradicional figolla, bolo típico dessa época. Acompanhar tudo isso de perto foi uma experiência muito bacana. É emocionante e bonito de ver a devoção, fé e amor que elea tem por Jesus.

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Choco Fest

Pouco antes da Páscoa encontrei na caixa de correspondência lá de casa um panfleto sobre uma tal de Choco Fest que aconteceria no shopping Bay Street. Avisei meus amigos e lá fomos. Confesso que fiquei bem decepcionada. O panfleto me fez imaginar um grande evento, repleto de deliciosos chocolates. Mas foi algo bem discreto e pouco interessante. As únicas coisas que me chamaram a atenção foram os artistas que estavam por lá, criando esculturas, tatuagens e até mesmo pintando quadros com chocolate.

Desfiles em Malta trazem estátuas que relembram o sofrimento de Jesus rumo ao calvário

A Sexta-feira da Paixão (Good Friday) em Malta é marcada por uma porção de procissões. As ruas de diversas cidades são tomadas por um monte de estátuas como estas das fotos que relembram diversos momentos que antecederam o sacrifício de Jesus. Da traição de Judas, passando pela crucificação até o enterro de Jesus. Tudo isso com trilha sonora tocada ao vivo por bandas marciais. Na procissão que passou perto da minha casa, não tinha banda, mas sim um coro cantando Ave Maria. Pena que na hora eu estava sem minha câmera e sem meu celular para registrar aquele momento. Você pode conferir todas as estátuas e o significado de cada uma delas no site Good Friday Malta.

Neste outro link você pode assistir um pouco dos bastidores e da procissão que rolou em Valetta, nessa última sexta.

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Where is your candle? O susto que levei durante uma cerimônia maltesa

Era dia 22 de abril de 2011, Sábado de Aleluia e eu estava caminhando pela orla de St. Julians voltando pra casa depois de um dia de compras em Sliema, quando de repente vi um burburinho na porta de uma igreja. Claro que resolvi parar pra ver o que era, curiosa do jeito que sou, né?! rsrsrs Num primeiro momento pensei que fosse um casamento, mas estava completamente enganada. Pura falta de conhecimento sobre o catolicismo. hehehehe

Quando consegui me enfiar no meio da multidão que estava parada na porta da Igreja (juro que parecia que estavam esperando uma noiva sair), consegui ver que no meio deles havia um galão (aparentemente querosene) e um balde com um tocos de madeira. De repente uns padres saíram da igreja e colocaram fogo no balde. Alguns coroinhas apareceram com velas enormes, acenderam-nas e retornaram para dentro da igreja, seguidos pela multidão que ali estava. E você tem alguma dúvida que eu fui atrás?

Igreja Our Lady of Mt. Carmel, St. Julians - Balluta Bay.

Entramos na igreja e estava um breu. E aquela escuridão me deixou ainda mais intrigada. Obviamente, que ficar quietinha no fundo da igreja só observando, não era o bastante para mim. Tive que ir quase até o altar da igreja, no escuro para espiar. Durante este pequeno percurso pequenas velas começaram a ser acendidas. De repente acenderam a luz da igreja e do nada apareceu uma freira bem na minha frente. E ela me perguntou gritando num tom bem bravo: “Where is your candle?” (Onde está a sua vela?) hahahahaha Todo mundo tinha uma vela, menos eu. =[ Imagina a minha cara de espanto e desespero? O susto foi tão grande e explicar porque eu estava ali sem a bendita vela me pareceu quase impossível que apenas gaguejei umas palavras que nem eu mesma entendi. E foi então que ela me mandou buscar uma vela lá na entrada da igreja e voltar ali para acendê-la. hahahahahahaha E o pior de tudo, em vez de eu me dar por satisfeita, pegar o caminho da roça e dar no pé, não, eu obedeci a freira. Busquei a vela, acendi e fiquei lá sentada ouvindo uma linda e emocionante cerimônia em maltês. Mas, afinal o que era aquela cerimônia?

Pesquisando no Santo Google descobri que tudo isso não passava da uma Cerimônia do Fogo Sacrado, realizada pelas Igrejas Católicas Ortodoxas. Os cristãos ortodoxos acreditam que um fogo sagrado aparece, de forma espontânea, na tumba de Jesus um dia antes da Páscoa. O fogo é interpretado como uma mensagem de que Jesus não foi esquecido por seus seguidores.

Como não aguentei ficar até o final da celebração, fiquei numa saia justa do que fazer com a tal da vela que tive que pegar. Deveria deixar lá queimando? Deveria levar para casa? Enfim, decidi sair à francesa e levar a vela comigo. hahahaha Quando cheguei em casa minha flatmate me encheu de perguntas sobre a tal vela que estava em minhas mãos e acabei contando toda a história pra ela que se divertiu horrores e me fazia repetir para Deus e todo mundo. Pode imaginar? Cada vez que contava, mais rica de detalhes era a história. Epa! Mas peraí isso não tem nada a ver com aquela história de quem conta um conto aumenta um ponto, não, viu?! Era apenas o meu vocabulário de inglês que foi sendo aprefeiçoado ao longo dos meses. Hehehe Alguém até gravou a minha hilária interpretação, mas não me enviaram. (só espero que nunca joguem isso no youtube hahahaha)

E foi assim que “where is your candle?” se tornou uma gíria repleta de significados para mim, pra minha flatmate e alguns amigos mais próximos. E esses significados continuaram como nosso segredo de viagem. hahahahaha Se um dia eu tiver a oportunidade, me lembre, que interpreto essa história pessoalmente pra você. 😉

Tradições da Páscoa: A Última Ceia

Como já contei pra vocês antes, Malta é uma país muito católico. Portanto você já imagina o quanto a Semana Santa é um feriado importante para eles, né?!

E as comemorações começam oficialmente hoje, Quinta-feira Santa (Maundy Thursday ou em maltês Hamis ix-Xirka). Como todos sabem, o dia que antecedeu a Sexta-feira da Paixão foi marcado pela Última Ceia de Jesus (Last Supper). E por isso, os malteses tem como tradição recriar esta cena com estátuas de tamanho real de Jesus e Os Apóstolos. Essas exposições ficam abertas para visitação gratuita em diversas igrejas de Malta e Gozo e são feitas por voluntários, por amor e devoção.

Durante o sábado de aleluia, eu estava caminhando pelo calçadão de San Giljan e parei para conhecer uma dessas exibições, mas era uma bem pequena. A placa que havia na entrada (foto abaixo), escrita em maltês, anunciava a venda de Qaghaq ta’ l-Appostli e Figolli, duas comidas típicas da Páscoa maltesa.

Outras Tradições da Quinta Santa são as procissões feitas com tochas que saem de praça Siggiewi, passam pela Rua Girgenti e terminam na Laferla. Há também uma missa especial, na qual um sacerdote lava os pés de 12 homens, para simbolizar o momento que Jesus lavou os pés dos Apóstolos. Depois dessa missa, os fiéis fazem o “Seba’ Visti”, um tour por 7 igrejas ou capelas diferentes para fazer uma oração em cada uma delas. Essa procissão pode ser feita até Sexta ao meio-dia e trata-se de uma tradição dos tempos da Roma Antiga.

Pra quem está em Malta uma das exposições que está rolando desde o dia 01/04 e vai até sexta é esta do Nadur Museum com 15 estátuas do James Azzopardi. O museu fica na San Ġorġ Preca Street, Nadur.

Imagem de 1520, por Giampietrino